outubro 30, 2004

Escarro

Escarro

Em cima do meu corpo se esfrega frígida, tua carne.Teus ossos machucam os meus, que ávidos de luxúria, não sentem a fúria.Tuas garras a me arranhar e os pêlos caninos a macular minha pele lívida.Sinto náuseas.Dor ejaculada.Sinto a mágoa que me excita.

Escarrei, não comedi.Gozei enfim o último soneto.”Com carinho e amor...” e meu nome assinado.Assino para que não duvides da procedência.Assino para que identifiques o teu frágil animal domesticável.

Gerei apenas um suspiro, lânguido e sofismático.Suspiro de fim.Ao olhar os olhos agonizantes que me observam sem me ver, percebo a satisfação da certeza de posse.Percebo que seremos em vão carne podre.Nos enterraremos em terra própria.Terra seca, de amores árida. Rachada por nossos gritos grotescos.

Respiro exausta, depois de ver naquele espelho de motel, não estrelas, mas dois trapos que se refestelaram com prazeres escusos.Nem trepando somos um casal.Não nos encontramos, não nos sentimos.Nos entregamos sempre a esses venenos solitários e viciosos.Formamos a anti-reciprocidade.Formamos a matéria inerte que insistem em chamar de enlace.
(Priscila Coli;25/10/04)

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