outubro 30, 2004

Uma rua e aquela paixão

Uma rua e aquela paixão

O chop gelado faz o copo suar no calor do Rio de Janeiro. Rua da Carioca. Sempre que passo por aqui os anos vividos se transformam em fatos que ainda me doem. As lojas de instrumentos musicais compõem a fotografia perfeita que trago comigo, desde a última vez em que estivemos juntos. Ainda paro em frente às lojas com a mesma cara idiota que hoje é refletida parcialmente pelo vidro das vitrines. Saxofones, saxes. Incrível como ainda me lembro de cada vibrante palavra sua comentando sobre a paixão que tinha por Stan Getz. Parece que foi ontem. O tempo não tem sido justo comigo.
O bar está cheio. Horário de rush no Bar Luís. Garçons se desdobrando e eu beliscando pedaços de melancolia quase crônica. Sozinho na mesa em que costumávamos sentar após as peças assistidas. Comentávamos deliciosamente. Chop amargo, amarguíssimo.
As imagens não se apagam e eu sempre me pego te olhando como da primeira vez. Jazz-band e você lá. Você lá. Sempre lá. Até que depois de decorar o repertório inteiro de um mês eu resolvi me aproximar. Se eu soubesse que seria tão bom não esperaria nem meia música para te abordar.
O Cine Íris me faz recordar brincadeiras. Um sorriso abafado pelas lembranças até se atreve em aparecer. Noites inspiradas, aquelas. Noites que jamais consegui repetir. Noites que não mais me são reais se comparando às minhas noites mornas em que divido minha angústia com a máquina de escrever.
Pensei que te encontraria aqui. Mas não. Ainda tenho coisas suas comigo e preciso devolvê-las. Alguns Cds e dois livros. A música dos dias vividos por nós precisa parar de tocar para mim. Já tentei arrancar suas páginas mas seu conteúdo permanece comigo.
A conta, por favor. Por hoje basta.

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