outubro 02, 2004

Solidão luminosa

Solidão luminosa

Saía toda tarde melancólica para ver o por do sol.E o sol ,solitário, lhe fazia companhia.Despediam-se de um mundo com toda efusão de cores e entravam na sombra de suas vidas,no breu de suas sinas.Penumbra que mesmo com a promessa de um novo renascer, ressurgia igual ao anterior.

Imutavelmente ela olhava os arrebóis como se procurasse um sentido para aquilo.Sentido para sua própria existência contínua.Talvez tivesse mesmo o espírito solar, retorna todo dia para tentar modificar.Vê as tardes como fins de ano, onde há esperanças de novidades.Tenta encontrar uma maneira de evadir, sair de sua pseudovida-latente.

Tinha seu rosto pintado em moldura inexpressiva, porém seus olhos eram úmidos de subjetividade.Revelavam mais do que ela queria aparentar.Pensamentos vagos e tímidos.Frágeis convicções que se desfazem ao vento.Sábia Brisa!Segue levando consigo palavras sufocadas, gritos mudos.Frases inteiras formuladas durante séculos intimistas.Corajosas proposições internas que ao entrarem em contacto com o mundo externo se mascaram frustradas e desaparecem.

Compartilhavam do mesmo sentimento.Provocavam a mesma sensação.Insensibilidade.Os transeuntes sentiam suas presenças e as comentavam, mas não as compreendiam.Eles refletiam a mesmice.Clichês.Parcos, mas necessários clichês.

Ela permanecerá observando o crepúsculo por muito tempo.Sem nunca se alterar com a beleza do degradé formado.Parcimoniosa.Impessoal.Seu olhar continuará perdidamente expressando dúvidas implícitas.Um dia saberá que o que procura na luz parva desse astro simbólico é a expressão do seu próprio eu.A vontade de viver que ela deixou para trás.O presente do qual ela insiste em não querer participar.
Priscila Coli;27/09/04


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