outubro 23, 2004

Vago enredo

Vago enredo

Foi num enlaçar frágil de mãos insertas que relembrei o meu passado.Importuno.Insignificante como a luz a entrar pela fresta da janela.Ilumina a cadeira em que sento e não a folha em que escrevo.

Como um tesouro que tem o mapa queimado e os cúmplices fantasmas, eu escondi minha estória.Intransitiva, fiz questão de apagá-la.Amnésia consentida.Desvario voluntário, porém, insipiente.Não poderia cortar da memória parte ainda latente, a qual sobreviveu feito um esporo durante anos.

A nostalgia voltara, com toda sua efusão de imagens e sensações.Triste momento em que suas mãos trouxeram à tona essa sombria realidade.Lágrimas raivosas, suspiros solitários.Um espectro doentio que já havia sumido.Ou talvez estivesse mascarado, escondido nos sorrisos amarelos que forjei durante todo esse tempo.Mentiras próprias, vadias.Pronunciavam-se a qualquer um que lhes desse migalhas de atenção. Ladainhas intrínsecas ditas repetidas vezes, agora me denunciam. Neste minuto, estampadas em minha face, me marcam como gado e voltam-se para o passado sem lirismos.Expõem verdades que corroem de dor meu ser.

Nesse simples afago de suas garras, hoje enrugadas, vejo torpe de desespero, que para tirar o calor das cicatrizes deixadas por elas teria que suicidar a mim.Quebrar a essência viciada, podar as daninhas da esperança que se fincaram na alma.Seria preciso evadir-me amoralmente parindo por náuseas mais uma capa oca, amarga e piedosa.Personagem sem papel, como este que agora jogo fora.
(Priscila Coli;17/10/04)

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