janeiro 13, 2005

Letras no papel

Letras no papel: Um bilhete para si própria

Na vastidão do pequeno escritório ausente, repousa um óculos solitário.Sobra de um momento frágil, lembrança amarga da situação que por ser presente ao correr da caneta no papel, vira passado.O livro aberto a dizer frases de nunca, estava em branco, porém existissem letras.Lembrava a continuidade que não houve.Vigésima quarta página, última vida da febril gota de sangue que manchava o papel virgem.A mesa de carvalho antigo parecia não entender justificando com os afrescos de seus pés a contorção de rugas duvidosas.O tapete opaco de pós sinistros havia calado; escondia segredos.Paredes descascadas e pilastras corroídas pelo tempo pareciam apontar um culpado.Cúmplices.Pausa de um coração que a tempos batia frenético a procura.Repouso final de um vulto gélido, a espreita e raivoso, a ansiar pelo momento certo.Forçava a pena contra o que chamava de nada, isso porque nem os suspiros ram rabiscados.A luz vacilante da luminária marfim quase duvidava do que via, tremulava qual vela acesa.E após uma noite em claro se esvaia como vento matutino.Deixava dormir o rosto com brilho de aluguel.Depois daquela noite não mais clareou.A pena parada num suposto túmulo onde jaziam denúncias vãs ao fato ocorrido, chorava em silêncio.O ser que cedia o pouco da vida que lhe restava essa noite não apareceu.Traiu os parceiros já insanos a prestar apoio e ajuda.Os livros espiavam mudos a aflição das bocas trêmulas.O vento batia na janela mas nem seu assovio conseguia entrar.O crime calcificava os olhos atentos, calava as possíveis perguntas, indagava as inesperadas respostas.Todos sabiam o que até os fios de cabelo caídos já haviam percebido, a tal levantara-se de repente sem vontade de ficar, arrumara a desordem pondo tudo naquilo que insistiam em chamar de lugar.Deixara apenas garranchos a ferir o papel.A prova do abandono, desistência de seu estado de espírito.Manchado estava:Grávida de letras e ávida por palavras que não me deixem expressar apenas em lágrimas o que seca no papel.

(Priscila Coli)

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