agosto 01, 2005

sendo muito

não sei por que eu sufoco.
às vezes acordo com a sensação de que o mundo está pelo avesso
e chego a quase nadar em queda livre
diante da chaleira que ferve e me bafora mais um cigarro
de ar.
[reticente]
na minha velhice eu quero poder saltar de um trampolim
numa piscina de veneno.
e escaldar sob o sol noturno das persianas fechadas
para achar algum sentido
alguma coisa que perdi muito antes
em baixo de algumas almofadas do sofá da sala.
[volta]
ai, é que me dói. interjeição de dor é um frenesi hilariante.
eu andei injetando insegurança - doses cavalares -
e caí numa tremedeira pelo chão da manhã,
enquanto as paredes da noite e o teto da tarde desmoronavam
silenciosamente.
[indiferente]
tenho algum medo dentro de mim, falha na alma.
não sei da onde vem tanto vão, buraco, lacuna, espaço
uma montoeira de vazio que empilho na cabeceira da cama
e que, antes de dormir, folheio pra nunca esquecer.
[volta]
meus cinco dedos contam os despertadores que tenho pela casa;
jamais deixo de acordar, mesmo estando tudo pelo avesso e desconexo
e me visto e desço para o café.
[derramada]
quanto mais eu corro em minha direção, quanto mais próximo fica o concreto
eu
(idealizando me sentir entre as palmas da mão)
fico cada vez mais distante daquilo que me preenche
dessa substância densa e... volátil.
[volta]
pra onde mesmo?

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