agosto 12, 2005

Notinha fiscal do amor

Decidiu que escreveria uma carta. Coisa de mão, de letra. Seria mais um registro, mais um documento eterno. Notinha fiscal do amor. Seria a garantia. Não teria recusa, muito menos equívocos sobre o produto. E não era de se espantar a forma como tratava o que sentia. Amor feito copo plástico em aniversário cheio de penetras. (Papelão ainda tinha um valor mais simbólico - alguns artistas se utilizam do material como matéria-prima.) Por isso, era plástico mesmo. Mas longe de plasticidade estética. Era só porque era coisa comum. Mais um produto. E para o tal, emitiria o comprovante, a nota. Depois, assinada, entregaria a carta. E duas pessoas passariam a acreditar no amor. Duas pessoas passariam a acreditar nelas como possibilidade.
Comédia em cartinhas de amor. As impressões digitais na cena do crime. O riso contido perante o ridículo. Amor, ora essas. Mas mesmo assim escrevia, e cria, lia suas letras como verdade. Escreveu a carta. Entregou. Selou um sentimento assim. E anda por aí crente que vive um momento delicioso e verdadeiro. Mal sabe que acaba de cair numa teia inexistente. Mas deixa. O sabor do mel é sempre melhor que qualquer alerta banal...

Nenhum comentário: