agosto 21, 2005

é insustentável creditar fracasso ao ofício dos dias.
quando me pego pensando em chamas, evito qualquer lembrança-água
porque pensar deve ser feito até o fim - e bem feito.
lamento triturar redemoinhos, ou mixar violinos com rap
é que me sinto tão abismo, tão vazada
que muita gente chega a me dizer que consegue ver através de mim:
não transparência de personalidade, não algo assim.
é que me torno invisível, petisco que sobra na mesa do bar
(ninguém quer comer).
eu evito relacionamentos luz naqueles dias fotossensíveis ao extremo
porque eventualemnte tenho crises fisiológico-burguesas graves
e, estando com a barriga cheia e com roupas cheirosinhas,
vejo que tremo diante de algumas necessidades salivares - muito fracas.
existe um peso sobre os ombros de quem nasceu em certo ano
e geralmente vejo nos olhares dessas pessoas anais
uma trsiteza de dar dó; um calabouço terrível. e eu acenando tchau,
enquanto masco algum chiclete, bubble gum.
procurei nas prateleiras do supermercado o superlativo "felicíssima"
e me orientaram verificar na parte de frios.
havia alguns corações congelados de outrora, e eu até me lembrei dos donos.
mas o superlativo procurado eu jamais achei.

todo mundo tem acessos bestiais e hipotônicos,
alguns dizem que é bom chorar enquanto outros grelham frangos para o almoço.
fico com a segunda opção. porque há tanto choro cristalizado por aí,
tanta gente já chora por mim todos os dias,
(veja os mendigos do centro. e os desabrigados da última enxurrada?
os pivetes colados na cola e tantas outras coisas...)
tanta gente chora sem escorrer uma gota sequer de lágrima,
chora em forma de pés, mãos, tronco, bunda e estômago vazio,
que eu entendo que há coisa mais grave com que devo me preocupar.

ninguém fotografa um paraíso em vida, mas sorri nas fotos que tira;
ninguém precisa dormir em paz só porque há mais tristeza de se chorar,
não.
tolices.

minha maior preocupação é derreter na fila dos outros,
e rastejar por pouca coisa. medo de perder poeira, sabe como é.
sabe...
como é?

a gravidade atonita cerra minhas pálpebras enquanto respiro leite
e bebo gás carbônico, só pra nocautear meu coração.
mas passa.
depois que alguém levanta, do fundo do salão, e estende a mão
eu danço quarteirões infinitos sobre os calos da minha cidade querida.
e lembro de abrir as cortinas quando o sol nascer
para ofuscar os olhos
e banhar meu corpo numa cegueira sem fim.

Nenhum comentário: