novembro 14, 2004

1º Ato

1º Ato

Holofotes no centro.A platéia minguante a nos observar.Tentei disfarçar a vontade quase fisiológica de gritar.O cujo pelo qual eu tanto esperei, havia se consumado a milésimos de segundo.Não houve tempo para refletir sobre as sensações exatas.Possuo apenas um aperto na garganta, uma dor perto do peito e um vazio no estômago.Estou com vontade de chorar, porém não esteja triste.Minha cabeça embrulha-se em um turbilhão de emoções.Como no avesso de um filme, as imagens exibem-se sem seqüência.Permanecem embaralhadas.Incontextualizadas.Ainda verossímeis demais para serem reais.
Nesse palco do anfiteatro, dias antes da estréia, nos beijamos recíproca e explicitamente.O desejado ósculo não ocorreu com técnica.Pronunciou-se de fato, transitivo, englobando sentimentos fora do script.Quebrando a impassibilidade do momento.A esfera de cacos que nos envolve agora torna os personagens únicos. Confusos e à flor da pele.Nossos lábios ainda trêmulos, os músculos contraídos.Permanecemos abraçados a fim de perpetuar a autoproteção.Hálitos ainda se misturam compreensivos.Vontades transparentes neutralizam as palavras.Sabemos que qualquer verso bucólico e tradutor trairá a singela cena.Momentânea e eternamente estáticos. Paradoxais...Recobro a lucidez e acabo por perceber que não lembro do texto.Afasto-me assustada de ti. Passos lentos. Olhar perdido. Mente confusa.Vejo no teu rosto a solução se concretizar. Corpo aflito.Suas lágrimas descem suaves.Choro cândido.Contentamentos puros a se desdobrar.O coração aberto conduziu teu pensamento.Guiou teu falar.A língua, a estalar no céu da boca, pronunciava leve a palavra AMAR.
Som de aplausos.Absortos e distantes.
Priscila Coli

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