julho 09, 2005

Pequena estória

Pequena estória sobre uma fatalidade pequena

Ricardo

Alessandra, ridícula, destroçou a minha vida. Saiu do apartamento sem nem dizer adeus. Pegou a bolsa sobre o sofá e bateu a porta. Ela nem pensou se eu sentia. Não recordou um minuto do amor que eu tive por ela, por tanto tempo. Foi fria, indiferente. Disse poucas palavras antes de se irritar e sair. Me deixou em choque e bateu a porta sem dizer que ia definitivamente, sem dizer adeus. Como odeio o que ela fez comigo! Nunca vou me esquecer. Alessandra desgraçou meu coração.

Alessandra

Segui meu rumo, não queria deixar que ele acreditasse que daríamos certo. Nossa vida era sublinhada por uma eterna condição. Uma irritante idéia de condição. “E se esquecêssemos das brigas, dos erros?” ou “Mas se a gente fosse um pouco mais tolerante um com o outro...”. Não! Chega. Ou as coisas são ou não são. Viver de condição é furada. E o jeito apegado do Ricardo...
Fui mesmo embora, depois da última discussão. Mal revidei as acusações dele: faltava carinho, amor e recíproca. E faltava mesmo. Para que insistir então? Me irritei com as cobranças de sempre, parecia que aquele discurso todo seria eterno. Devia ser etéreo, isso sim.
Resolvi sair da vida e do apartamento dele. Sem explicações. Sem dizer adeus. Sem me importar. Não sei se ele ficou ainda mais magoado. Melhor assim. É bom que me esqueça.

Alessandra e Ricardo

- O que foi, por que está me ligando, Ricardo?
- Achei um absurdo a forma como você saiu de casa.
- Quê absurdo, Ricardo? Não podia ser de outra forma, ora.
- Foi grosseiro. Foi ridículo! Nunca pensei que...
- Me poupe dos “pensares” doloridos do fim de uma relação, certo? Acabou, e ponto. Não há nada o que fazer. Você deveria seguir sua vida, Ricardo. Procurar alguém que combine com você e tudo.
- Que conversa fiada, Alessandra! Você quer é se ver livre de mim.
- Que isso...
- Pois saiba que eu tenho raiva de suas atitudes, te acho uma grosseira, uma insensível. Qual é? Pensa que todo mundo vai ser compreensível como eu fui? Não dá, né Ale?
- O que não dá e esse papo aqui prosseguir. Vamos acabar falando coisas que não queremos ouvir. Vamos pôr um ponto final aqui, querido.
- Mas nem conversar...
- Não, nem conversar.
- Ok então. Adeus.

E quando se deu conta, Ricardo se viu esperando a despedida do outro lado da linha. Nenhum adeus. Alessandra desligou, simplesmente.

Ricardo e Alessandra

Ele não aceitou aquela segunda grosseria. Que estúpida era Alessandra. Não se despediu novamente. Não oficializou a despedida.
Ligou de volta. Quis tirar satisfações.

- Qual o problema Alessandra? Por que não se despede devidamente de mim, já que me rejeita tanto? É estratégia ou o quê? Você está achando que vai me ter eternamente? Que hilário, não? É verdade que nunca me esquecerei de você. Lembrarei daquela grossa com quem namorei por um tempo, com quem me envolvi e a quem dediquei algumas juras de amor. Vou lembrar de alguns planos sim, o que tem? E lembrarei dos passeios que costumávamos fazer quando você estava de folga no mesmo dia que eu e quando íamos almoçar fora. É lógico que aquela cena no Jardim Botânico, no dia em que nos conhecemos, vai vir em minha mente de vez em quando, mas eu não vou me importar! Vou lembrar sempre da grossa com quem namorei por um tempo. Que mal sabe se despedir com dignidade de um antigo amor. Que mal sabe o que é amor. E como não sabe sentir, acha que ninguém mais sente. Ah, como lembrarei! E vou espalhar pelo Rio de Janeiro, aliás, pelo mundo, como você é ridícula, sabia? E aí você nunca mais vai namorar ninguém. Ou você pensa que eu sou fragilzinho e vou ficar sofrendo com as lembranças que levarei eternamente de você? Vou ter comigo muita raiva. Vou ter um ódio imenso e, claro, rejeição por sua pessoa. Porque pessoas como você não merecem amor algum. E então eu nunca mais te amarei. Mesmo que eu lembre de você e tudo. Será, Alessandra, que um dia eu te amei mesmo? Ou eu amei o vazio? Vai ver eu amei seu silêncio, já que eu ecoava nele soberano. Você nunca ligou mesmo para mim. Sempre me tratou pelas metades. Nunca foi inteiramente minha. Vai ver foi 100% com algum outro. É, vai ver fui traído. E trocado. E usado. Tolo! Mas não me importa, não. Sempre vai haver uma música melancólica onde eu enfiarei a lembrança de sua pessoa. A lembrança de como eu me sentia inteiro com você e como agora eu já não te suporto. Porque você foi a mulher da minha vida e agora, olha só... agora eu te odeio. É bom que saiba. Alessandra, você está ouvindo?
- Claro, você está falando comigo, ora.
- E você não vai dizer nada?
- O que quer que eu diga? Você quer ouvir as coisas que deseja. E se eu não disser, vai sair por aí dizendo que eu te decepcionei, queimando o meu filme. Mas Ricardo, a gente precisa ouvir de tudo. Ou não ouvir. Acho que agora o melhor é não ouvir.

Ricardo X Alessandra

Ricardo: Alessandra, ridícula, destroçou a minha vida. Alessandra desgraçou meu coração.
Alessandra: Segui meu rumo. Melhor assim. É bom que me esqueça.

E fim de estória.

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