setembro 20, 2004

desculpas

Desculpas

O arrependimento doía mais porque feria o orgulho. Aceitar que havia cometido um equívoco seria demais. O julgamento precipitado, que nem deveria ter existido, pesava a consciência e inibia. Causava uma vergonha que tornava tudo pequeno. Reduzia ao nada. Um ser humano vazio e superficial é o que era.
Defrontando o espelho, encontrava esta imagem distorcida que incomodava o olhar. Este, que procurava sempre a melhor reflexão, amuado voltava-se para dentro e percebia a falha fatal. Reconhecê-la, porém, era o que traria à tona as máculas amargas.
Era mais fácil acreditar na constância do ser humano e em seu papel de coadjuvante na vida das pessoas. Manter-se sempre na defensiva acabava por ser tentador. A hostilidade das palavras e dos gestos cabia perfeitamente nesse jogo perdido. Um jogo sem placar. Inútil. Um jogo de relações mal resolvidas. E de uma questão besta de manter tudo isso igual.
Despontava, assim, um orgulho dilatado que foi responsável por cegar boa parte do convívio e que impediu a visão da tolice propositalmente alimentada por todos os dias.
Quando percebeu, desarmou-se. A realidade da estupidez despertou o grande engano que havia sido cometido. O orgulho foi engolido. A humildade de reconhecer a besteira fluiu pelo corpo. Um minuto. O arrependimento pulsando nas veias e uns olhos cheios de lágrimas. Dos lábios trêmulos e de um coração maduro brotou o pedido:
- Me desculpe!

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