abril 11, 2009

Da procura

É provável que a mulher que você procura esteja ela toda em você; que a libertina com a qual você sonha, e perde as noites entre os cigarros incessantes que acende, esteja ela completa em você. Com a diferença de que você não consegue perceber que o Inferno está rubramente por dentro, por dentro da sua boca, no calor da língua do beijo da falta de ar e da pressa. Acontece uma busca vã, assim; e você acredita que vai encontrá-la em qualquer esquina, noite, bar - encontrar a outra mulher que não a que reflete no outro lado do espelho quando você entra no banheiro da boate para retocar o seu batom. A mulher que aperece no espelho, com o lápis borrado e com um borrão míope de bebida e cansaço da noite, é a mulher que você - sem notar - ambiciona e lança entre os cabelos das outras, lança nos finos pulsos que segura entre um raio de luz estroboscópica e outro, lança entre um toque irregular na cintura de alguém que passa ao lado no embalo de uma música. Mas você não percebe que nenhuma delas guarda o que você deseja; que nenhuma delas vai pagar a entrada e a carta de bebidas, pegar a chave do carro na bolsa, te mandar sentar no banco da frente e te levar para passar as quatro horas mais interessantes da madrugada, privativamente. Nenhuma delas, por mais que se tente ou se procure - ou melhor, por mais que você tente, ou que você procure - nenhuma delas vai se desprender do fato da pluralidade de sensações, e de parceiros, e de parceiras, e de atividades, e de conversas, e de bebidas, e de emoções, e de todo o resto de uma vida que vinga sob muitas lágrimas escondidas mas sob uma vantagem perfeita de se estar viva. Não; nenhuma delas é resposta. A libertina por você procurada é você própria. Mas você não aceita, porque não aceitamos sombra ou noite.

Nenhum comentário: