novembro 15, 2008

(...) Com o corpo, porém, hoje espero tudo. Mas com o corpo eu sempre esperei; portanto, a exclusividade não é sua. Apesar disso, o fragmento de afeto reacende uma vez e outra, e canta vagarosamente além do corpo. Diz que há mais, e este é o perigo. Muito do sofrimento de não reter reside exatamente aí. Porque, quando tratamos só do corpo, há facilidades do desapego que justificam descuidar, procurar só quando sentir desejo e, ao contrário, não envolver com veludo de dedos as horas do seu dia. Contudo, agora começo a guardar os fragmentos de carinho. Às vezes, o rebuliço da maré os trazem à tona, mostrando o quanto eles existem, o quanto são possíveis apesar de toda a mentira dos meus disfarces. Em outras ocasiões, com o esforço de fingir, os fragmentos de carinho afundam - perco de vista a ameaça. Então, sobra apenas corpo e a sua linguagem. Há uma potência de assombro que me cala diante dessa constatação de haver afeto e haver mentira. Chego a não esperar nada racionalmente. Porém o corpo. Este espera um impacto, ainda remoto na idéia, mas dolorido a cada aproximação e fuga das minhas palavras.
Um dia, será pela voz a queda do vestido.

2 comentários:

Priscila Coli disse...

"Um dia, será pela voz a queda do vestido."

Sutil e urgente!
amei!

Bruna Maria disse...

"urgente" com toda a certeza, rs :)

Pri escreve pra gente porfavooooor!