janeiro 06, 2007

Verão.

Verão

Enquanto o homem canta, eu acredito; há sim uma bela estória, e há memórias grandiosas. Enquanto o homem canta e soletra as letras, eu creio: existe um grande amor e uma saudade imensa desejando acabar.
Quando o homem encanta sem que haja nada, e canta, sem que em meu coração pulse qualquer vontade, eu me anestesio e crio aquelas belezas e bailes e vestidos lindos para meu moço. Eu danço, enrolo os cabelos com fitas, e vivo história.
Enquanto o homem canta eu me vejo perdidamente, em outro ritmo, só com uma música. E dançamos [eu e o moço] pela cidade, e eu sorrio, e ele me abraça e eu volto àquela pureza singela dos amores primeiros. Vão-se as mágoas adquiridas com os anos, vão-se as lembranças sem brilho. Sobra a noite, a Lapa e um céu estrelado de verão. E meu vestido movendo pelo moço, e uma sandália leve, e uma espera expectante. E o moço pode não ligar, mas ele me beija; e ele pode ser assim do jeito dele, que eu vou continuar ali, assim, do meu jeito.
Enquanto o homem canta nos meus dias de amores vagos, eu vivo romances e festas, poesias e lirismos latentes. Enquanto o homem canta em dias como hoje, flutuantes e cegos, perdidos nos riscos com meu moço, multiplicam-se as magias dos encantos, dos olhares, das palavras, dos abraços e culminâncias sentimentais.
Canta mais um pouco, então homem, pr'eu encantar meu moço um pouco mais.
(Bruna Maria)